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domingo, 27 de dezembro de 2015

Boas festas e um 2016 cheio de conquistas!

Olá amigos,
O tempo voa e o meu regresso de Iten - Kénya já foi há bastante tempo! Depois disso já corri a São Silvestre da Lourinhã. Como habitualmente gosto de voltar a casa e estar com quem eu gosto e me viu crescer para o atletismo. Foi um prazer correr nas ruas da Lourinhã, obrigado pelo apoio!

Ontem corri na El Corte Inglés São Silvestre de Lisboa, onde consegui um difícil mas honroso 5º lugar. Foi uma prova com grandes andamentos iniciais e não consegui manter-me junto dos primeiros até ao final, como desejava. Ainda assim, foi um bom resultado para uma competição que não é a minha especialidade.   

Foi uma grande festa do desporto e do atletismo. Parabéns a todos os que participaram e aplaudiram nas ruas de Lisboa! Quando se junta, competição, festa e amizade, só pode dar bom resultado! Parabéns ao Hugo Miguel Sousa e à sua equipa HMS Sports pela excelente organização, que conseguiu juntar todos estes atributos e ainda juntou a componente promoção no seu melhor com uma transmissão direta em na Bola TV o que ajudará na promoção desta modalidade que todos amamos.



Boas festas a todos!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Iten - Home of Champions - week V (last week)

A última semana na Home of Champions começou com mais um treino pelas 8h (5h em Portugal), acompanhado do já conhecido nevoeiro cerrado. Fomos fazer uma das voltas habituais, começando por descer durante algum tempo e regressar sempre a subir. Os ritmos são lentos e as sensações não são as melhores - acho que o esforço que fazemos aqui, se fosse realizado a correr em Portugal, traduzia-se em grandes treinos. Foi dia de bi-diário, mas da parte da tarde uma corrida muito fácil, para recuperar dos treinos anteriores e com vista ao treino do dia seguinte - íamos correr, pela primeira vez, com os quenianos.
Na terça-feira lá fomos nós para o grande treino com os quenianos. Saímos do centro a correr para fazer o aquecimento e fomos direitos ao centro de Iten. Virámos à esquerda para ir ter ao local da "partida" e começamos a ver vários quenianos a correr. Íamos a descer e continuámos a ver muitos quenianos a correr pela estrada fora - aquilo parecia mais as caminhadas a Fátima, onde se vê constantemente pessoas na berma da estrada, mas aqui iam todos a correr! 
Lá chegámos ao local. Nunca vi tantos atletas juntos para treinar! Éramos, à vontade, mais de 100 atletas, entre homens e mulheres. Brancos éramos uns 5/6: eu, o Charlie e o Robbie, mais alguns turcos. Juntámo-nos todos no início de uma estrada de terra batida e um dos quenianos subiu a uma pedra que estava de lado, mandou o pessoal fazer pouco barulho e explicou o treino - era fartleck de 1 minuto em corrida rápida e outro minuto de corrida lenta! 
Partimos, começando com o minuto lento e depois todos a correr que nem uns desalmados - eu sprintava e, mal sabia quando é que acabava, passavam quenianos por mim a um ritmo louco, eu mal conseguia ver onde punha os pés e com a estrada irregular às vezes dava alguns maus jeitos ao pé (felizmente não torci ao ponto de me aleijar, mas tive bastante receio que pudesse acontecer). Acabado o minuto rápido, no descanso, os que estavam mais atrás continuavam a correr para se aproximarem dos da frente e eu, no meio deles, comecei a sentir-me apertado, no meio de 100 pessoas num espaço apertado de tal forma que os meus óculos de sol começaram a embaciar com tanto calor humano!? Nunca me tinha acontecido tal coisa. 
Ouviu-se o apito de um relógio e todos começaram a correr rápido novamente. Apanhámos pela frente uma enorme subida, mais uma vez a ser ultrapassado por todos os lados mas também ultrapassava alguns quenianos - não me ficava atrás! O pior é que o descanso era uma corrida normal, não dava sequer para recuperar em condições, mais o sobe e desce, estradas irregulares, é claro que "dei o estoiro" (deve ter sido tão grande que, se estivessem com atenção, tinham-no ouvido em Portugal, eheh). 
Fiz metade do treino e comecei a ser ultrapassado por mulheres. Vi logo que estava mesmo mal e, então, encostei um pouco mais à frente. Mesmo assim fiquei contente porque estavam continuamente quenianos a passar por mim, afinal tinha feito um treino bom; e apesar de querer mais, não estava minimamente consciente da dificuldade que era! Fui a andar um bom bocado, até que fiquei completamente sozinho - tinha uma vaga noção de onde estava, mas ao mesmo tempo perdido, consegui ver uma "torre antena" e sabia que ficava no centro de Iten. Orientei-me também pelo monte do parque das girafas e fui tranquilamente ter ao HATC (high altitude training center). Da parte da tarde estava completamente de rastos, então optei por descansar. Sentia dores no corpo todo, muita sonolência, estava completamente esgotado!
Quarta-feira, ainda bastante cansado devido ao dia anterior mas com a motivação de serem os últimos dias de treino, lá fomos nós para mais um treino - íamos sensivelmente a meio quando passamos por um grupo enorme de quenianos. Pensámos logo no dia anterior: seriam os mesmos atletas? É provável, mas o grupo era metade do do dia anterior (ou nem tanto), mesmo assim era enorme! Os meus colegas, cansados, decidiram parar um pouco mais cedo, pois estavam a sentir na pele o treino do dia anterior, e eu por não o ter concluído (não quer dizer que não estivesse cansado), pensei em fazer mais um pouco de tempo. 
À tarde, a nossa comitiva ficou ainda mais reduzida. Mais uma grande parte dos ingleses voltaram para as suas terras, sobrando eu, o Charlie Grice e o Robbie. Eles vão ficar mais uma semana. E, claro, o mexicano e o americano que vão ficar até fevereiro! Despedidas e mais despedidas e lá foram eles. Nós fomos preparar-nos para mais um treino, tranquilo, a ritmo confortável, num percurso junto à pista de terra batida - nada de especial, tirando a parte em que vimos dois homens à luta, um deles com um pau com pelo menos 1 metro de comprimento. Nós reagimos todos de igual maneira, acelerando o ritmo sem nos pronunciarmos sobre o assunto. Só uns metros à frente falámos sobre o que vimos!
Na quinta-feira era o dia de descanso do Charlie e do Robbie, mas como eu me ia embora no dia seguinte, tinha de treinar! O Charlie combinou com o mexicano irem até à cidade de Eldoret, ter um dia diferente e aproveitar para fazer umas compras, mas eu resolvi ficar pelo centro e passar a manhã no ginásio. Comecei por fazer bicicleta e depois alguns exercícios e alongamentos. Aproveitei o dia bom para passar algum tempo na piscina e "trabalhar" para o bronze - de Portugal diziam-me que o tempo estava a arrefecer e já não estava tão bom como há um mês atrás, altura em que eu cheguei ao Quénia e estava mais frio aqui do que em Portugal! Agora as coisas estavam a mudar - daqui a nada é Verão no Quénia e já se nota os dias a melhorar (já não chove tanto), o que por um lado é mau, pois quando íamos treinar e passava algum carro por nós, levantava uma imensa poeira no ar - às vezes até conseguíamos sentir areia nos dentes, porque não conseguíamos respirar pelo nariz!
Da parte da tarde aproveitei para comprar umas lembranças no Olympics Corner, onde tinha já comprado a minha pulseira personalizada. Esta "barraca" ficava logo à saída do centro, junto à "Main Road", onde está aquele pórtico a dar as boas-vindas a quem chega: "WELCOME TO ITEN HOME OF CHAMPIONS" (assim está escrito). Aqui, aproveitei para gravar um vídeo a desejar Bom Natal a todos!

Nisto, umas crianças começaram a meter-se comigo, sempre com o "how are you?" sem saber responder quando lhes pergunto o mesmo - ultimamente aprendi algumas palavras como "jambo" que significa "olá", "habari?" quando queres perguntar se está tudo bem e "misouri" que quer dizer "estou bem". Ou seja, quando eles perguntavam como estava, eu já respondia "misouri". Estava eu a voltar para o centro quando uma das crianças passa por mim a correr e faz a roda mesmo à minha frente. Achei engraçado e lembrei-me que tinha um pacote de bolachas Maria de reserva para quando tivesse fome, mas como já era o último dia decidi partilhar com eles. Disse-lhes para esperarem por mim enquanto eu ia ao quarto. Voltei e trouxe o pacote dentro do bolso da minha "sweat" e, antes de o partilhar, perguntei se sabiam o significado de dividir. 
Eles não estavam a perceber e, por gestos e com calma lá entenderam. Queria oferecer de maneira a que partilhassem de igual forma, então abri o pacote e dei a um deles, a primeira coisa que ele fez foi distribuir pelos amigos e tirou para ele no final. Pensei para mim mesmo: "uau, se calhar nem precisava de ter explicado o que significava dividir e partilhar de igual forma". Pedi-lhes para tirar uma foto para ficar com o registo e cada vez que olho para a foto consigo presenciar a felicidade deles naquele momento! 


Antes de me ir embora, um deles virou-se para mim e disse: "see, see". Um dos seus colegas juntou as mãos, ele descalço mandou uma corrida em direcção ao amigo e, com o apoio, fez um mortal para trás! Eu não hesitei: "do it again" - provavelmente ele não percebia o que disse mas como reparou que estava com ar admirado e mostrei o telemóvel para filmar percebeu logo. Então repetiu a proeza e eu fiquei com a gravação destes artistas!


Na sexta-feira fomos até à pista, para o Charlie fazer o treino de séries (eu não fiz porque já ia ter uma longa viagem pela frente, que me ia deixar de rastos) - e como o treinador dele já estava por Inglaterra, pediu ajuda a um treinador turco (Dennis), que já conhecíamos, para controlar os tempos dele e do Robbie. Fomos então aquecer até à pista de terra batida, onde eles pararam para fazer alguns exercícios, e eu continuei a minha corrida contínua a ritmo lento. Quando eles começaram o treino, eu fui o "camera man" deles, com a gopro que eles tinham. Filmei e tirei fotos do treino, ficaram brutais! 



No final do treino fomos uma última vez à rocha que tem vista para Rift Valley - fiz questão de lá ir uma última vez, a este sítio magnífico onde podemos apreciar da melhor maneira aquele vale. Ficámos meia hora a apreciar a beleza daquela vista! Tirámos umas últimas fotos e fomos embora... 



Almoçar e jogar um último jogo de ping-pong.
Acabei de arrumar as minhas coisas e ainda tirei uma última foto com os funcionários do HATC e com o Charlie, Robbie e Daniel. 


Na viagem até ao Aeroporto passei por Eldoret, onde consegui ver durante o dia a confusão que era aquela cidade, os carros e motas sem regras de trânsito, as pessoas ocupadas a fazer as suas coisas de um lado para o outro, vi um género de uma feira junto à estrada onde as coisas estavam todas espalhadas pelo chão, mobília à venda na rua junto à estrada principal, até vi uma mota transportar um sofá!


Mais uma longa viagem à minha espera.
A primeira até foi rápida, de Eldoret até Nairobi o voo durava cerca de 40 min e foi praticamente levantar voo, comer um snack que ofereceram e aterrar. Já em Nairobi a conversa era outra, estive 4h a fazer escala, aproveitei para comprar uns postais e ler um livro, seguidamente apanhei o avião que seguia até ao Dubai por mais 5h, deu para ver 2 filmes, jantar e ainda ouvir música. 
Escala no Dubai foi cerca de 3h, quando saí da porta de desembarque tive de apanhar um metro para ir para a outra porta de embarque, consegui conectar-me à internet por uma hora e falar algum tempo com a Silvana e informá-la por onde andava. Só faltava mais um avião e, desta vez, o mais difícil de todos, com 9h de viagem até Lisboa. 
Deu tempo para tudo: dormir, ver filmes, ver documentários, ler... o pior foi quando começou a doer-me o joelho por estar sentado há demasiado tempo. Não arranjava posição confortável, mas lá cheguei a Lisboa. Estavam à minha espera o meu sobrinho, o meu irmão e, claro, a Silvana! Dali fui direitinho a casa, os meus pais estavam desejosos de me ver e, assim que cheguei e os cumprimentei, reparei nas lágrimas que estavam prestes a saltar do rosto dos meus velhotes - afinal tinha estado um mês em África, uma viagem arriscada mas que felizmente correu bem. Estava finalmente em casa! Tive os tios do lado da minha mãe presentes para um almoço com polvo grelhado - que saudades que eu já tinha! E depois de matar as saudades de casa e de estar com a família, nada melhor que ir até à praia, ver o pôr do sol...

Assim termina esta aventura, da qual me recordarei para o resto da minha vida! 
Venho com uma nova mentalidade, com outra atitude, vivi experiências que recomendo a todas as pessoas, pois nos dão uma grande lição. Vemos as pessoas felizes com o pouco que têm, crianças radiantes por nós estarmos ali, um povo sempre simpático e acolhedor, felizes à sua maneira!
Aos meus colegas atletas, aquilo é outro mundo, é um mundo super competitivo e um espírito brutal para treinar. Qualquer atleta de meio-fundo deve obrigatoriamente fazer um estágio naquela vila!

Assim me despeço pela última vez:
Um abraço directamente da Atalaia - Lourinhã

domingo, 6 de dezembro de 2015

Iten - Home of Champions - week IV

A iniciar a minha penúltima semana com mais um treino logo bem cedo pela manhã - uma manhã um pouco cinzenta com bastante nevoeiro e vento - lá fomos nós para um percurso de "sobe e desce". Não é que, a certa altura, temos de interromper o nosso treino por breves momentos? Uma manada de vacas estava a obstruir o nosso caminho. Já não era a primeira vez que este tipo de situação acontecia, mas das outras vezes, com algum cuidado, conseguíamos passar em modo de corrida lenta. Já desta era mais difícil.

O Charlie Grice tem sentido algumas dores num pé devido às irregularidades que as estradas apresentam, pois são todas em terra batida. Por vezes está um sol forte, depois chove muito e isso causa buracos no piso, o que para o treino é complicado. Desta vez os meus colegas acabaram um pouco mais cedo do que eu e eu fiz um treino mais longo sozinho.
Da parte da tarde fomos dar uma volta até algumas lojas de Iten, basicamente em "lojas de corrida". Fui eu, o Charlie e o fisioterapeuta de Inglaterra (Alex), mais umas raparigas turcas. Uns queriam comprar uns ténis, o Alex queria alguma roupa de corrida do Kenya e foi giro vê-los a regatear os preços com a dona da loja. As raparigas, que praticamente não sabem falar inglês, até usavam o telemóvel para mostrar à dona quanto queriam pagar: punham os números na calculadora e mostravam, depois era a dona a emendar os números (ahah), cada um a puxar para o seu lado, uma situação muito engraçada. Enquanto eles continuavam a discutir, eu fui a uma outra loja de ténis, mas eram todos em segundo mão (ou pé)! Aproveitei para tirar uma foto, pois nunca tinha visto uma loja assim na minha vida!




Na vinda, aproveitei para parar numa barraca aqui perto do centro, onde fazem pulseiras personalizadas e têm também algumas recordações para venda; então mandei fazer a minha! Terça-feira foi dia de fazer séries e, mais uma vez, a pista de terra batida Kamariny Stadium estava sobrelotada, com grupos de 15/20 atletas. Chegámos e, desta vez, tinha comigo o meu telemóvel para registar o momento!

Tirei algumas fotos e até fiz um vídeo engraçado, onde mostro uma pequena parte do espírito que se vive nesta pista. Posso utilizar tudo e mais alguma coisa para tentar descrever, mas é impossível!


E se fores atleta e quiseres perceber, não fiques em casa, precisas mesmo de cá vir, viver, sentir e no fim sair daqui com uma mentalidade completamente renovada
A manhã esteve alegre pois, para além do ambiente vivido, esteve sempre um sol bastante bom. É claro que depois do nosso treino de séries fomos directos para a piscina, relaxar os músculos e apanhar algum sol ao som das músicas que os ingleses punham nas suas colunas portáteis. Da parte da tarde fui buscar a pulseira personalizada que tinha encomendado no dia anterior. Conseguem tentar imaginar como pedi que ficasse? Então cá vai, uma pulseira com o nome pelo qual mais sou reconhecido no mundo do atletismo "ROLIM", com a bandeira de Portugal e, claro, com a bandeira do Quénia! Pedi um rebordo dourado para ficar mais engraçado e digam-me lá se não ficou brutal?


Começou a chover e optei por descansar da parte da tarde, pois o treino da parte da manhã tinha sido forte e deixou-me bastante cansado. Fomos jogar um pouco de ping-pong para ocupar a tarde com boa disposição!
Quarta-feira e, novamente, mais um treino bi-diário para fazer (era bom que fosse passear ou fazer um safari, mas estou aqui é para treinar) e lá fomos nós fazer uma volta pelo meio do campo numa estrada de terra batida, e desta vez o Charlie já tinha recuperado e tivemos mais uma companhia - de um Mexicano (Daniel) que já está cá há 3 meses e ainda vai ficar até Fevereiro! Eu dava em maluco. Está bem que isto é bom, temos qualidade de vida para treinar e descansar, mas minha rica caminha, que me espera em Portugal! 
A primeira parte do treino era sempre a descer, uma maravilha! Sem fazer quase esforço nenhum, lá íamos nós a bom ritmo. O pior era quando começavam as subidas, de 1 a 2 Km, em que só vemos metade delas e pensamos que acaba lá ao fundo, mas quando lá chegamos há uma curva e a subida continua. Nas nossas cabeças só está um pensamento: quando é que chegamos à "main road" (estrada de alcatrão que liga Iten a Eldoret)? Da parte da tarde estava bom tempo, então aproveitei para lavar a roupa (já o tinha feito antes, não foi só agora!), e como é esta minha tarefa tão divertida? Nada melhor do que lavar roupa no chuveiro, com um sabão amarelo que eles utilizam para várias coisas. Lá estou eu a esfregar a roupa do lado de fora do chuveiro, joelhos no chão, a tentar tirar aquela terra vermelha das meias e da roupa! Não é nada fácil, pois a terra teima em não sair, os joelhos começam a doer como tudo... acho que, na minha última semana, vou levar uns quilinhos de terra a mais na minha mala para Portugal!

Na quinta-feira fomos fazer séries pela manhã mas, como choveu na noite anterior, a pista de terra batida estava com alguma lama, o que tornou um pouco impossível fazer séries nela, então fomos para a pista de tartan, desta vez só 3 atletas (eu, o Henry e a Adelle), mais 2 treinadores de bicicleta. Fizemos todos um excelente treino e, hoje, foi o dia em que me senti pior no final. Doía-me as pernas, a cabeça parecia inchada e os braços com mais um quilo cada um. Esta é a penúltima semana e os treinos começam a ser mais intensos. 




Mas como é preciso "não abusar a toda a hora" e controlar o cansaço, da parte da tarde fomos fazer um pouco de corrida contínua, a ritmo moderado/lento. No final deste dia, só conseguia pensar "só falta mais uma semana de treinos", tenho o voo marcado para a outra sexta-feira, por isso já não conta! Apesar de esta ser uma experiência inesquecível e certamente que gostaria de a repetir, as saudades que sinto da nossa terrinha são imensas. Às vezes vejo as pessoas queixarem-se a toda a hora que "Portugal isto, Portugal aquilo", mas de todos os países que já visitei, este é mesmo o melhor. O atletismo têm-me dado a oportunidade de conhecer mais de metade da Europa (só agora saí do Continente) e, pela minha experiência, não há nada como a nossa comida, não há um clima tão bom como o nosso, não há nada como as nossas praias, resumindo, não há nada como a minha terrinha! Na sexta-feira, a começar logo pela manhã, fiz um treino de corrida contínua bem cedinho, ainda sob um nevoeiro cerrado - como na maior parte das manhãs, e fomos até à pista de terra batida onde não se conseguia ver o outro lado da pista! No regresso, logo à saída da pista, temos uma rampa que já está marcada como a pior rampa de Iten e não há uma única vez que a suba sem pensar mal dela, pois "rebenta" literalmente comigo. E, por azar, comecei a sentir uma dor na perna esquerda, junto à virilha, que não sei se foi devido à subida ou se ao treino do dia anterior ter sido forte e ter provocado alguma mazela, mas o que sei é que sentia a dor mais intensa quando fazia subidas. A partir daquele momento, optei assim por descansar da parte da tarde. Parece ser bom ter uma tarde de descanso, mas psicologicamente leva uma pessoa um pouco abaixo estar a tarde toda a pensar naquela dor, com receio que ela se mantenha e te impeça de treinar no dia seguinte, etc. Tentei repousar ao máximo e usei algumas vezes um aparelho de electro-estimulação "compex" que a Federação me emprestou, e que sempre dá para tentar remediar algum azar que aconteça!


Felizmente, no sábado, senti-me bem no aquecimento que fizemos até à pista de terra batida. Já não sentia dores na perna, o que me motivou bastante para as séries. Desta vez era só eu e o Henry, com a companhia do treinador Joel. O treinador Craig (do Henry), já em Inglaterra, enviou-nos o treino no dia anterior, e que treino! Era um treino longo e intenso, que o Henry não aguentou nem metade. Tínhamos combinado puxar as séries à vez, mas à terceira já sentia a respiração ofegante dele e comecei a perceber que ele não estava em condições. Ajudei-o e continuei a puxar - ele só tinha que manter o ritmo atrás de mim, mas chegou a uma altura que encostou, e eu também já sentia alguma dificuldade, pois o treino não era nada fácil, mas acabei por conseguir finalizá-lo. A pista estava deserta, o que achámos bastante estranho, mas pensámos que seria o dia de treino longo dos kenyanos, mas mais tarde viemos a saber que houve uma prova de 10 Km na qual o Asbel Kiprop foi o vencedor. Perdi a oportunidade de o ver correr ao vivo, este gigante dos 1500m que ganhou recentemente o mundial!
Podes espreitar aqui o vídeo que também carreguei na minha página oficial do Facebook:

Hoje a pista era só minha!!! Estás ansioso por saber como correu esta semana??Amanhã haverá um novo resumo!
Posted by Emanuel Rolim - Página Oficial on Saturday, December 5, 2015


A seguir ao almoço ficou uma tarde espetacular e aproveitei para apanhar um pouco de sol. Nem meia hora aguentei, pois estava um calor abrasador! Devido ao treino ter sido bastante intenso da parte da manhã, resolvi descansar para recuperar para o treino longo do dia seguinte, então passámos uma boa parte da tarde a jogar ping-pong, em duplas. Desta vez era eu, o Dan, o Spencer e o filho do treinador Jon, o Finley. Jogamos várias partidas e fomos trocando de equipas entre nós. Praticamente todos os jogos foram renhidos até ao fim, pelo que ninguém saiu desanimado. No final ninguém sabia se tinha ganho mais vezes do que perdido; foi acima de tudo uma boa tarde (competitiva) de ping-pong! Domingo de manhã é, mais uma vez, dia de treino longo, o último treino longo aqui no Quénia! Fomos novamente para o percurso da semana passada: saímos do centro a correr, direitos a Iten, e depois virámos para uma estrada de terra batida que vai dar ao parque de girafas. Mal entrámos na estrada de terra batida, vimos que ia ser um treino interessante, tudo cheio de lama devido à chuva que tinha caído no dia anterior. Mais à frente tinha um riacho a atravessar a estrada, onde a semana passada - com um salto - conseguimos facilmente passar. Mas desta vez tivemos de passar mesmo pelo meio da água!

Chegava quase aos joelhos e foi uma sorte não ter caído. Já mesmo nas últimas passadas dentro de água escorreguei um pouco, pois não via onde punha os pés. Passando o rio tínhamos uma enorme rampa, de aproximadamente 2 Km sempre a subir. Com os ténis cheios de lama, cada perna pesava pelo menos mais 1 Kg (ou pelo menos era essa a sensação) e lá continuámos nós, até que a lama foi saltando, os ténis secando e os quilómetros passando. Eu e o Charlie fomos os que fizemos mais Km's e chegámos perto do parque das girafas, entrámos na carrinha que nos acompanhou ao longo do percurso e consegui descobrir mais duas girafas - estavam bem longe mas consegui distingui-las da vegetação! O parque das girafas é fácil de identificar, pois tem uma montanha muito íngreme.

A tarde foi tranquila, passada entre a piscina, o sol e os jogos de ping-pong - relaxar ao máximo para finalizar em grande mais uma semana! Com isto, falta sensivelmente uma semana, mal posso esperar para chegar a casa e (nunca pensei em dizer isto) comer um bom peixe grelhado! Não gostava nada, mas de há uns anos para cá fui-me habituando a comer de vez em quando, e agora (durante um mês sem comer peixe) é uma sensação mesmo estranha. Começo a enjoar desta comida, é boa mas é sempre o mesmo. Neste tempo todo comemos peixe só duas vezes e devia ser de água doce; o sabor era muito estranho! Tenho saudades dos meus cozinhados, das minhas sobremesas e claro, da comida da minha mãe! No próximo sábado ao jantar já estarei a matar todas essas saudades...
Um abraço diretamente de Iten - Quénia.

domingo, 29 de novembro de 2015

Iten - Home of Champions - week III

Mais uma semana a iniciar e, novamente, com algum cansaço acumulado do treino longo do dia anterior. O trabalho tem sido exigente mas também temos tido tempo para descansar. 
Um dos nossos principais passatempos é jogar ping-pong. Jogamos a maior parte das vezes em duplas, o que anima bastante estes jogos que, apesar de servirem para passar o tempo, são altamente competitivos! Normalmente jogo com o Charlie. Eu com os meus serviços cheios de efeito e ele com os seus poderosos ataques fazemos uma grande equipa e são raras as vezes que perdemos. E, como para recuperar desta competição toda (treinos e ping pong) é necessário boas refeições, a melhor refeição é, sem dúvida, o pequeno-almoço!

Alimentação para atletas | As nossas refeições em Iten
Pequeno-almoço: temos à nossa disposição três recipientes com água quente, leite e chá (um chá de cereais), ovos cozidos ou estrelados, pão com manteiga, doce de morango ou manteiga de amendoim (à escolha), e ainda temos panquecas ou um género de cuscurões estaladiços (não são tão doces, mas com um bocadinho de doce de morango, ficam mesmo bons).

Almoço: devem pensar que a comida é muito diferente, mas como estamos num centro que acolhe muitos atletas vindos da Europa, eles fazem comida mais parecida à nossa. Posso dizer que é a única refeição em que é servida sopa (de batata, de abóbora, de tomate, etc.) e onde não há carne. Normalmente temos massa ou arroz, para acompanhar legumes cozidos e salada. Costumo acompanhar a sopa com pão, pois às vezes são um pouco picantes.


Jantar: única refeição com carne, em que normalmente fazem como acompanhamento uma massa chamada Japatis/Chapatis que todos adoram. Eu costumo enrolar com esses "pequenos triângulos" os legumes e também, por vezes, a carne fazendo um género de "wrap", muito gostoso. Há uma outra massa que parece o pão antes de ir ao forno mas de que não gosto tanto por ser um pouco insossa. É ao jantar que nos servem sobremesa, normalmente ananás, melancia ou manga. Adoro o dia em que há manga, pois são mesmo muito saborosas. Há também um dia em que temos um bolo de chocolate, simples mas sabe bem por ser diferente.



Temos também um lanche de manhã e outro à tarde, onde basicamente são servidas as bebidas do pequeno-almoço acompanhadas de pão.


100 atletas (e 3 ovelhas) na pista Kamariny
Mas porque estou aqui para correr e não para comer, vou contar-vos o que mais me surpreendeu (por ser mesmo verdade). Foi na terça-feira, quando fomos fazer o nosso treino de séries à pista Kamariny (a famosa pista de terra batida). Estavam à volta de 100 atletas a fazer séries, vários grupos de 10/15 atletas, uma coisa impressionante! Já tinha visto, em fotos, grupos grandes, mas ali estava a apreciar aquele momento no próprio local, com um espírito de treino fantástico. A vontade de fazer um grande treino aumentou, só de presenciar aquele espectáculo. Lá estávamos nós a fazer o nosso treino, o calor e a altitude a dificultar a nossa vida e não é que, mesmo a finalizar o treino, passam 2 ou 3 ovelhas à nossa frente para ir pastar na relva que está no interior da pista? Tivemos de nos desviar e, se a pista tivesse os corredores delineados, era provável que tivéssemos ido acabar na pista 4. No final do treino aproveitámos para ir a um miradouro natural perto da pista, perto de um outro que já referi na semana passada e apreciar com mais calma a excelente vista que Rift Valley nos proporciona: uma tranquilidade espantosa enquanto observamos um pântano ao longe e, quem sabe, crocodilos? Os meus colegas gostavam de lá ir, mas para já não passou só de uma ideia.


Calafrios? Já eram!
Ao final do dia comecei a sentir uns calafrios, não liguei grande coisa mas o que é certo é que passei a a noite com febre. Habitualmente costumo dormir só de roupa interior, mas quando estou doente visto sempre uma t-shirt, passo a noite toda a suar e acordo todo encharcado! Ajuda-me muito a recuperar e, assim foi. Não recuperei totalmente, pois continuei o dia todo com alguma tosse e meio ranhoso, mas pelo menos a febre passou. Pela manhã, quando fui tomar o pequeno-almoço, estavam metade dos ingleses a ir embora, de regresso a Inglaterra. Disse adeus a todos um pouco ao longe explicando que estava doente, mas o Sam não ligou nenhuma pois tinha estado doente uns dias antes e chegou ao pé de mim e deu-me um grande abraço! Podem ter-se ido embora, mas certamente não me vou esquecer deles, pois fizeram parte desta minha aventura e acolheram-me da melhor maneira possível. Ganhei novos amigos!
Depois desta noite horrível, sorte a minha que já tínhamos combinado que esta quarta-feira seria de descanso, para recuperar da fadiga acumulada dos treinos. Ainda me deixei adormecer de manhã por não estar a 100% e cheguei tarde ao almoço, passei a tarde a ver televisão, vi o nosso Benfica empatar com o Astana e, depois do jantar, estivemos a conviver um pouco na sala de convívio antes de ir dormir. Deu para recuperar bastante e, assim, não perdi o ritmo do resto do grupo!
Quinta-feira começou com mais um treino, às 8h da manhã (5h em Portugal), nada mau para começar o dia. E lá fomos nós. O tempo não era dos mais alegres pois estava nevoeiro e ameaçava chuva. Passei o treino todo a deitar fora as porcarias que tinha dentro do corpo devido a estar engripado, mas assim até é uma boa maneira de recuperar! A tarde tornou-se bastante desagradável, começando a chover com bastante intensidade. Optei por falhar um treino, pela primeira vez durante este tempo. Era um treino ligeiro só para fazer algum tempo e não estar parado, mas para não apanhar aquela chuva e poder recuperar para o dia seguinte, fiquei mais uma vez na sala de estar a ver televisão e só dava notícias do Papa Francisco que esteve de visita ao Quénia!


Sexta-feira optámos por fazer um treino ligeiro da parte da manhã e fazer as séries de tarde, pois havia grandes probabilidades de chover pela manhã e assim foi: começamos o treino às 8h e terminamos meia hora depois. Fomos tomar o pequeno-almoço e começou, mais uma vez, a chover torrencialmente... Estou mesmo no meio de um clima tropical, e se calhar foram estas mudanças de tempo que me puseram neste estado! À tarde, foi tempo de fazer séries e não é que combinam começar o treino às 15h? Mal tinha a digestão feita, pois acabei o almoço por volta das 13h e pouco e é claro que deu para o torto! Ainda a recuperar da constipação e sem a digestão feita como deve ser, lá fomos nós até à pista de tartan (pois a outra devia estar cheia de lama por causa da chuva), de mala às costas pela estrada principal em direção a Eldoret, e passados 2 Km chegamos à pista e sinto a barriga a remoer e a dar sinal de si. Eu, a tentar não fazer caso, continuo com o aquecimento com técnica de corrida, umas retas e lá vamos nós... durante a segunda série começa o mau estar a intensificar, e à terceira foi acabar e ir direitinho à mochila pegar papel para ir à "casa de banho", sim a casa de banho é uma barraquinha com um buraco no chão! Acabei ali o treino, mal disposto e chateado por não o ter conseguido realizar, mas dali ainda fomos para o ginásio, onde acompanhei os exercícios que o Charlie estava a fazer e ele esteve sempre por perto para me ajudar a corrigir certas posições ou movimentos dos exercícios. 

Sábado começa mais um dia bem cedo. Levantar às 7h15 para começar o treino às 8h, com nevoeiro cerrado, deixando a estrada principal um pouco perigosa por causa dos carros não verem nada à frente. As estradas de terra batida estavam com demasiada lama, então decidimos ir até à pista de terra batida correr no interior, que é de relva. Vesti um fato de treino e pus umas luvas (a primeira vez que as usei desde que cheguei) e lá descemos até à pista - mal saímos do centro, existe uma descida e foi uma sorte ninguém ter caído, pois estava muito escorregadia. Lembrei-me até de Font-Romeu, quando treinámos com neve, mas aqui era bem pior! Lá chegámos à pista cheios de lama nos ténis e fomos para a relva. O nevoeiro era tão intenso que não se via o outro lado da pista! 

Ao voltar para o centro aconteceu uma coisa engraçada. Passam por nós dois carros e o de trás parecia estar com pressa e pareceu-me que tinha intenções de ultrapassar o da frente, mas mal ele vira a carrinha começa a derrapar, vira para o outro lado para controlar a carrinha e ela virou a traseira novamente, mais uma guinada e ela sempre a derrapar, sorte e habilidade do condutor que a carrinha foi sempre em frente e lá conseguiu controlar, mas para nós serviu para rir! 

O que faz estar sem Internet
Não tivemos acesso à internet desde Sexta-feira à tarde, pelo que fiquei incontactável até ao almoço de Sábado e começam a vir ter comigo ingleses a perguntar: "já falaste com a tua família?" Eu fiquei um pouco espantado. Será que estava tudo bem? Saí do almoço e comecei a receber notificações no telemóvel, já tinha internet! "Estás bem? Onde andas? O que se passa?", etc. Andavam todos à minha procura em Portugal. Depois vim a saber que a Silvana tentou ligar-me várias vezes mas eu não atendia (não recebi chamada nenhuma e não cheguei a perceber porquê), a mulher do meu irmão mandou mensagens para o facebook de todos os ingleses que estavam marcados na foto tirada na pista, alguns deles já em Inglaterra responderam que já cá não estavam, o meu Treinador ligou cá para o centro várias vezes, mas ninguém veio falar comigo até ao almoço do outro dia, enfim, uma balbúrdia só por não ter tido NET. Felizmente não aconteceu nada de mal e eu estive sempre aqui pelo centro a descansar e ainda a recuperar da constipação...
Domingo lá fomos nós para o treino longo. Saímos aqui do centro em direção ao centro de Iten e depois apanhámos uma estrada de terra batida onde fizemos vários Kms sempre na mesma estrada, com muito sobe e desce e sempre com uma carrinha táxi atrás de nós. Mais uma vez, os que faziam menos Kms eram apanhados pela carrinha e os outros continuavam o seu treino. Acabei o meu treino e esperei, mais o Robbie, pela carrinha, entrámos e só faltava mais um acabar o treino. Estavamos juntos a um parque de girafas, mas elas andavam escondidas. Porém consegui ver uma ao longe, num monte. Via-se o monte e depois, quase como uma sombra, as curvas daquele animal que se destacava, ao longe! Realmente não deu para apreciar da melhor maneira, mas já posso sair daqui a dizer que vi uma girafa no seu habitat natural!
Da parte da tarde fui, mais uma vez com o Charlie, levantar dinheiro ao banco. 3 indivíduos sem capacete numa mota, pela estrada fora. Voltámos e fomos directamente ao hotel Kerio View, para jantar fora e, desta vez, por ser mais cedo, já deu para apreciar a fabulosa vista sobre Rift Valley! Aproveitei para tirar bastantes fotos ao local, pois estava bem apresentado e tinha algumas estatuetas de crocodilos, elefantes e girafas. Sem dúvida, um dos sítios mais bonitos de Iten!


Desta vez aproveitei para jantar carne de porco com molho barbacue e batatas fritas. Que saudades que já tinha de batatas fritas! No final estivemos a ver o jogo do Arsenal e, quando voltámos para o centro, fomos num táxi cujo motorista disse que era à "kenian style" - a carrinha de 9 lugares levava 14 pessoas lá dentro!

Saudades

O estágio já vai a mais de metade e já começo a contar os dias que faltam. As saudades de casa são enormes, saudades dos meus colegas, saudades da minha família, saudades da minha comida, saudades de ver o mar, saudades de tudo e mais alguma coisa! E a desesperar por voltar para os braços da minha Silvana! Se eu pudesse trazê-la, tudo era mais fácil, pois estava a viver esta experiência com ela, e quando assim o é, o tempo passa sem nos apercebermos! Lembro-me várias vezes do meu primeiro estágio em altitude em Font-Romeu onde ela me fez companhia. Como era bom estar a fazer uma das coisas que mais gosto com aquela pessoa, sempre ali a acompanhar-te, a incentivar-te, e dou comigo a pensar: "como seria se ela estivesse aqui?"

Um abraço diretamente de Iten - Quénia

domingo, 22 de novembro de 2015

Iten - Home of Champions - week II

Olá, ou Habari em Suaíli (língua oficial Kenya)!

Segunda-feira começa mais uma semana de treinos. Sinto-me um pouco cansado devido ao treino longo do dia anterior, e estava previsto fazer 6 milhas (1 milha = 1,609 km), mas acabamos por reduzir o treino da manhã para 5 milhas. De tarde, fomos correr para um percurso novo, passámos junto à pista Kamariny Stadium, descendo por uns trilhos, e fomos dar a um miradouro natural, onde por breves momentos consegui contemplar a beleza de Rift Valley. Estavamos nós a 500m de finalizar o treino e, quase a chegar ao centro, passa uma ambulância a toda a velocidade levantando bastante poeira, e de seguida a polícia levantando ainda mais. Já sentia areia nos dentes e na garganta. Mesmo junto ao centro passaram uns 5 jipes do exército e um dos ocupantes começa a fazer gestos para nos expulsar daquela rua. Só quando chegamos ao centro é que reparámos que a estrada principal estava cortada e montes de gente ficou ali à espera... Vinha lá o presidente, "Mzee Jomo Kenyatta", aquele que "dá a cara" nas notas de dinheiro queniano (shilling) e que trazia a frota toda para a sua protecção! Um aparato de segurança que nunca tinha presenciado em nenhum outro local.


Terça-feira foi dia de ir à pista de tartan "Lornah Kiplagat Sports Academy" fazer o treino de séries. Chovia enquanto fazíamos o aquecimento - uma corrida de mochila às costas desde o centro até à pista. O treino correu bem e, no final, houve tempo para uma foto de "família". Sim, entretanto chegaram mais Ingleses para se juntar ao grupo!

Na quarta-feira houve mais um treino bi-diário, calmo pois necessitávamos de recuperar do treino de séries. A recuperação em altitude é bastante difícil e nem as sestas a meio da tarde são suficientes para recarregar energias e fazer mais um grande treino. É preciso saber controlar o esforço para não entrar em overtraining, em excesso, portanto. À noite fomos celebrar o aniversário da nossa amiga Rosie, que fez 24 anos, e decidimos todos ir jantar a um Hotel chamado Kerio View, que tem uma excelente vista para Rift Valley. No entanto, como já era de noite, não deu para apreciar a bela paisagem que nos proporciona. Paguei 1500 Shillings pelo jantar (é mais ou menos 14€) e tinha escolhido comer pork cordon bleu - carne de porco recheada com queijo e fiambre, um prato enorme bem servido e, no final, um belo crepe com gelado e chocolate quente! Quinta-feira seria mais um dia normal de treinos, mas surgiu a oportunidade de ir visitar uma escola, a seguir ao almoço. Lá fomos nós, numa carrinha, até à Kapkio Secondary School, que ficava a uns 30min por uma estrada de terra batida, pior que um carrossel. Estremecia por todos os lados e nem por isso o condutor ia mais devagar, de tão habituado que ele já deve estar! 



Chegamos à escola e entramos pelo campo de futebol, estacionamos perto de umas salas de aulas, e saímos para visitar algumas das instalações, pois os alunos estavam ainda em aula. Fizeram uma pausa para ir a casa de banho, que de casa de banho aquilo tinha pouco. Umas condições horríveis mas que são as únicas que têm. Voltaram e lá fomos nós para a sala. Cada um se apresentou, dizendo quem era, de onde vinha, que disciplina do atletismo fazia, etc. Era altura dos alunos fazerem algumas perguntas, mas começaram por se sentir um pouco tímidos. Um colega meu, chamado Sam, teve a brilhante ideia de levar alguma roupa, então em troca de uma pergunta ele oferecia uma peça de roupa, desde t-shirts, calções, meias e até alguns doces que o Theo e o Kylie compraram e ofereceram. 
As perguntas passavam essencialmente pelas diferenças entre Inglaterra e o Quénia, pois eles pouco sabem da realidade Europeia. Perguntaram como se formava a política, como eram as cidades e ruas de Inglaterra, entre outras. Como era o único português e eles pouco ou nada sabem de Portugal, não tive de responder a quase nada. Antes de ir embora tirámos algumas fotos de grupo, mas não queríamos perder demasiado tempo por causa do treino da tarde. 
Infelizmente os rapazes africanos adoraram duas das nossas amigas e não as deixavam ir embora (foto atrás de foto), houve um que adorou tanto a nossa amiga Adelle que até pôs o cabelo dela na boca! Nós não parámos de rir. Regresso ao centro e mais 30min de turbulência. Cheguei com umas dores de cabeça horríveis e um pouco mal disposto, fui beber um chá e fomos a mais um treino.
Sexta-feira o treino foi muito tranquilo pela manhã, pois de tarde tínhamos o treino de séries. O treinador do meu colega Charlie Grice chegava à hora de almoço com mais uns jovens de Inglaterra. De seguida deu para ir dar um mergulho à piscina, pois estava um dia maravilhoso (coisa rara, pois os dias têm sido muito incertos e tanto está a chover de manhã como à tarde está sol). Estive deitado na espreguiçadeira perto de uma hora a falar com uns colegas e não é que apanho um pequeno escaldão? Nada demais. De tarde manteve-se o bom tempo e fomos fazer séries na pista de terra batida. Acabámos por fazer um grande treino e o treinador do Charlie ficou bastante satisfeito! Enviei o treino ao meu treinador Pedro Rocha e é claro que também gostou muito, afinal estou aqui a treinar com os ingleses porque tenho um grande treinador, e mesmo longe está sempre a acompanhar-me da melhor forma possível!

No sábado esteve de chuva. Pela manhã ainda deu para fazer o treino sem problemas, mas já se adivinhava a chuva que estava a chegar. Durante a tarde estivemos a ver o jogo de futebol do Manchester United e, à noite, fomos ver o Real Madrid vs Barcelona num "club" aqui perto do centro. Não gostei de ver o jogo e ainda por cima não deu para ver o jogo do nosso Benfica! Fiquei sem saber o resultado, e no domingo não tínhamos luz pela manhã, ou seja, não tínhamos internet e só soube do resultado depois do treino. Treino longo! Saímos numa carrinha "táxi" e fomos em direção a Eldoret, onde passados uns 20min chegamos a uma estrada de terra batida para iniciar o treino. Lá começamos nós em ritmo lento mas os meus colegas estavam a ir a um ritmo demasiado lento e logo me adiantei um pouco. Quando dou por mim já estava eu com uns bons metros de avanço e a um bom ritmo, fiz assim mais de uma hora do treino sozinho, mas ao longo do caminho tive sempre o apoio das crianças quenianas que me cumprimentavam. Até houve uns que viram os meus colegas mais a trás e começaram aos gritos "number one, you are the champion" e isso ainda me deu mais motivação para fazer um bom treino! 
Acabei o treino e continuei a andar, para descontrair um pouco. Passaram por mim dois colegas que iam fazer o treino ainda mais longo, mas iam num ritmo mais lento. Sentei-me numa pedra junto ao caminho a espera do nosso táxi, que tinha apanhado outros dos meus colegas que estavam mais atrás e entretanto chega uma rapariga queniana que começa a fazer-me perguntas e estive ali um pouco a falar com ela. Queria saber de onde vinha e qual o treino que tinha feito. Os quenianos gostam de interagir com gente "branca". Entretanto chegou o táxi, entrei e fomos apanhar os nossos colegas que estavam mais a frente. Treino bem feito, que resultou numa longa tarde de descanso. 

Assim terminou mais uma semana, com treinos exigentes de tal forma que o cansaço fez-se sentir! 


Um abraço directamente de Iten - Quénia

domingo, 15 de novembro de 2015

A minha primeira semana em Iten - Quénia

Iten - Home of Champions Com partida às 13h30 do dia 10, mal sabia o quão dura seria esta minha viagem. Pensei para mim: "já viajei pela Europa, esta será só mais duas juntas numa só". Tive pela frente 8 horas de avião até ao Dubai, que acabaram por ser agradáveis, pois vi três filmes e ainda ouvi música... Agora, as 9 horas que fiz de escala no aeroporto é que foram mais difíceis. Percorri todas as lojas do aeroporto duas vezes! 10h da manhã do dia seguinte, avião para Nairobi. Sorte a minha que tinha os dois lugares ao meu lado disponíveis e consegui deitar-me e recuperar algumas horas de sono da escala que tinha feito. De Nairobi apanhei outro avião para Eldoret. Foi levantar voo, comer uns snacks oferecidos pela companhia e aterrar. Até aí tudo bem, mas... quando cheguei não tinha ninguém à minha espera no aeroporto! Lá estive a tentar resolver o atraso ou esquecimento do transporte fazendo contactos em Portugal e finalmente chegou um táxi amarelo. A conduzir do lado esquerdo como em Inglaterra, numa noite cerrada e a chover bastante, nunca pus a minha vida tão em risco no trânsito! Aquela má disciplina que pensava que só via nos filmes é pura realidade! Ultrapassar pelo lado errado, cruzamentos em que entram carros de todas as direcções, motas com 3 ou mais passageiros... uma loucura, portanto! Cheguei já tarde a Iten - onde passarei as próximas semanas - e felizmente receberam-me muito bem. Até o jantar já me esperava, mesmo depois da hora prevista! Ainda encontrei a pessoa que me desafiou para esta aventura - o meu amigo de Inglaterra Charlie Grice, que conheci em 2010 no Europeu de Juniores. Combinámos o treino do dia seguinte e fui descansar. Primeiro treino, em jejum, às 7h45 da manhã, qualquer coisa como 4h45 em Portugal.

Lá fomos nós fazer um treino ligeiro para nos adaptarmos à altitude (2400m). Foi por caminhos de terra batida, junto às culturas dos Quenianos, passámos por várias crianças que, em vez de estarem na escola como uma "criança normal", estavam a pastar as vacas, ovelhas ou simplesmente a brincar no meio da rua... descalços. Pensamos para nós mesmos "coitadas das crianças que vivem em extrema pobreza e não têm as melhores condições de vida" mas, de repente elas começam a acenar-te, com um sorriso na cara, dizem algumas palavras em inglês (how are you?) e ainda começam a correr ao nosso lado, descalças e felizes da vida! No sábado, fomos fazer um treino específico na pista de terra batida e a caminho dela uns miúdos começaram a correr ao nosso lado. Reparei que um deles vinha de sandálias, mas mais à frente, já junto à pista, ele já as tinha tirado! Para ele era mais confortável correr descalço... aparece um ainda mais pequeno e fez uns meros 10m ao nosso lado, mas o miúdo devia de ter uns 2 ou 3 anos, no máximo! A altura dele dava um pouco acima do meu joelho só... e eu a ver aquelas crianças crio uma grande simpatia e devolvo-lha com sorrisos.

Isto tudo para dizer que já levo uma grande lição de vida durante a primeira semana. Isto é saber ser feliz com o que temos! Eles mal conhecem outra realidade e são felizes, e nós que temos tudo e mesmo assim será precisamos de mais? Será que somos assim tão gananciosos ao ponto de não saber viver, não saber ser feliz? O que posso dizer mais sobre esta semana é que está a ser um grande desafio comunicar correctamente com os ingleses, mas eles têm sido super acolhedores e têm-me deixado super à vontade. Já fiz novos amigos e temos treinado todos em conjunto.


Passo o tempo a treinar ou a descansar, tenho o meu spot favorito numa cadeira junto à piscina onde consigo estar na internet para me actualizar e comunicar com família e amigos, e há tempo também para grandes competições de ping pong!
A comida é um pouco diferente, não consigo descrever exatamente, mas tenho conseguido apreciar e até já estou a habituar-me.


Acabou assim uma semana com um treino longo esta manhã e com uma tarde muito competitiva de ping pong, para a semana vou tentar fazer mais um resumo desta grande experiência de vida!!! Bons treinos, um abraço diretamente de Iten - Quénia